A Potência da Tristeza

Por muito tempo, não deixei a tristeza entrar. Não abri a porta para ela, como uma visita indesejada, deixei-a do lado de fora. A gente custa a dar à tristeza seu lugar. A gente se desaponta, se revolta, se angustia, vive tudo isso e age conforme tudo isso, mas tarda a viver a tristeza.

Ela, tão pouco entendida. A ciência não desbancou o poder da tristeza. Pelo menos até agora, não achei alguma teoria que encontrasse qualquer cultura humana que não sinta tristeza. A conclusão é: não há um ser humano capaz de extirpá-la de sua vida.

O que as diversas teorias das emoções dizem é que a tristeza, sim, tem uma causa só: a perda. Não há outro motivo para se ficar triste, verdadeiramente triste, senão a perda. Digo verdadeiramente porque a tristeza é muito, muito confundida. Há quem diga abandonada.

Já me decepcionei muito na vida. Já me angustiei muito. Mas no meio disso tudo aí, uma hora percebi que na decepção ainda estou agarrada a uma expectativa do que “deveria”. Na angústia tem um pouco de dúvida, de preocupação (futura), mesmo imprecisa, pouco clara.

Foi recentemente que eu descobri que tinha poucos momentos de tristeza. Foi quando disse a mim mesma que era preciso, de novo, saber perder. E que a angústia e a decepção, por exemplo, eram a tristeza batendo na porta. É verdade que elas duas têm um pouco de tristeza. Mas com elas ainda estamos no “controle”, ainda estamos “segurando” algo.

Hoje, quando sinto o cheiro da tristeza travestido de decepção, angústia, ou até revolta, o único que tenho a fazer é dar as boas vindas a ela. Meu exercício tem sido deixá-la me tomar. Quando estamos verdadeiramente tristes, já perdemos algo. Uma parte de nós já se foi. A tristeza, minha gente, abre espaço.

Abre espaço para o novo.

Um grande professor @casassusjuan me disse o que eu já desconfiava: a tristeza dá relaxamento ao corpo. Um relaxamento de quem se convenceu de que não adianta lutar. Como diz um amigo meu: a tristeza é mestra. E como é importante esse relaxar. Falando de mim, eu descobri que eu adoro a tristeza. Preciso dela. E quando ela chega, eu já estou verdadeiramente livre.

Com emoção,
Carla 🌷

Deixe um comentário sobre o texto

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia mais textos